quarta-feira, 30 de agosto de 2023

CORREIA DE MORAES, OS HERDEIROS DO TRONO DE INHAPUAMBUÇU

Luiz Pagano no Edifício Matarazzo, sede da Prefeitura de São Paulo

Neste artigo relatamos as três fases que envolvem todo o entrelaçamento cultural desde a chegada dos Protugueses ao Brasil e a miscigenação que formou os primeiros troncos de famílias em São Paulo.

No texto que segue, Luiz Pagano tem o prazer de relatar suas descobertas ancestrais sobre sua própria familia, bem como a distinção de três fases na relação entre as tradições históricas ancestrais brasileiras e aquelas adquiridas de estrangeiros que por aqui perambularam, e seu papel na revalorização indígena da São Paulo de Piratininga:

“Sempre me perguntaram: 'De onde veio essa coisa do Cauim?', 'Por que você estuda Tupi antigo?', 'Por que você é tão apegado a esse assunto?'...

Até esses dias eu não sabia responder.

Por outro lado, venho acompanhando minha família no ancestry.com desde 2009, e nessas semanas apareceu algo incrível na minha página – sim, sou descendente de Tibiriça!!

Genograma Descendente de Tibiriça até Luiz Pagano

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É muito curioso perceber que sempre gostei das questões indígenas no Brasil, mas nunca esperei ser descendente de Tibiriçá, pois com o sobrenome Pagano Brundo fica muito claro que minha família certamente não é brasileira.

Mas então comecei a investigar nas árvores genealógicas na internet principalmente através de sites como Familysearch e Ancestry. Naturalmente, Pagano e Maiello são italianos, então nunca cheguei aos ancestrais brasileiros, más por outro lado, minha avó (Família Correa de Moraes) nasceu na Rua da Glória número 4, dentro do Triângulo Histórico de Inhapuambuçu, e temos um túmulo no cemitério da Consolação, o que indica que minha família é muito antiga aqui em São Paulo.

Minha vó Zuzu sempre nos disse que somos descendentes de indígenas e que fomos umas das primeiras famílias a habitar São Paulo, mas nunca imaginei que fosse a primeira família do Brasil. Sim somos descendentes de Tibiriçá, Bartira e João Ramalho.

Cheguei a este levantamento de 17 gerações, o qual tentarei contar a história de cada um desses meus avôs e avós:

Retrato fictício de João Ramalho e um filho, pintura de José Wasth Rodrigues, na galeria de notaveis do Museu do Ipiranga

1ª Fase - O encontro de duas Culturas e o brinde com Cauim

Podemos começar por João Ramalho, cuja únicas certezas que temos são a data da sua morte, 3 de maio de 1582, de seu testamento a 3 de maio de 1580, e que foi grande amigo e posteriormente genro de Tibiriçá , a principal liderança indígena do Brasil.

Filho de João Velho Maldonado e Catarina Afonso de Balbode, provavelmente nasceu no ano de 1493 em Vouzela, Viseu, em Portugal.

Deve ter chego ao Brasil por volta de 1515, fez amizade com Tibiriçá e se esposou de sua filha Bartira, constituindo a primeira família de São Paulo, dando sequencia a uma enorme miscigenação que vivemos hoje.

Cacique Tibiriçá e Neto (ou Potyra), quadro de José Wasth Rodrigeis, Museu Paulista da USP

Tibiriçá nasceu por volta de 1475, o processo de catequização e batismo durou seis anos (1555 a 1561), período no qual aprendeu a falar a língua portuguesa e os jesuítas fizeram grande parte do estudo lingüístico do Tupi Antigo.

Tibiriçá era filho do Cacique Cacique Amyipaguana (1430~1520), denominado “macro-jê Tupiniquim”, e Guayana Tibiriçá Amyipaguana (1440~1501). 

As edificações de São Paulo começaram a surgir já no anos de fundação,  1554, conforme relatado pelo Padre Manuel da Nóbrega e auxiliado pelo Padre José de Anchieta, que ergueram um barracão de taipa de pilão, numa colina alta e plana, ao norte do cercado do Inhapaubuçu, que tambem foi expandido, dando origem São Paulo de Piratininga, conforme disse o Padre José de Anchieta em carta à Cia de Jesus:

“A 25/01 do Ano do Senhor de 1554 celebramos, em paupérrima casinha, a primeira Missa, no dia da conversão do Apóstolo São Paulo e, por isso, a ele dedicamos nossa casa".

Casa do Conselho de São Paulo, uma das primeras edificações da cidade (circa 1560)

Dois anos depois, erguem uma Igreja, depois o colégio e o pavilhão com os aposentos. Ao redor do colégio, formou-se um povoado de índios convertidos, jesuítas e colonizadores. Em 1560, a população do povoado seria ampliada, quando, por ordem de Mem de Sá, os habitantes da vila de Santo André da Borda do Campo são transferidos para os arredores do colégio.

Aos poucos e infelizmente, a cultura dos portugueses se sobrepõe à cultura dos indígenas - somente Deus há de saber quando a Tibiriça brindou com João Ramalho bebendo sua última cuia de Cauim.

Continuemos -  A vila Santo André da Borda do Campo é extinta e o povoado é elevado a esta categoria, com o nome de "Vila de São Paulo de Piratininga". Por ato Régio, é criada sua Câmara Municipal, então chamada "Casa do Conselho". Acredita-se que nesse mesmo ano foi criada sua Santa Casa de Misericórdia.

Alcântara Machado relata:

"Afinal, com o recuo, a submissão e o extermínio do gentio vizinho, mais folgada se torna a condição dos paulistanos e começa o aproveitamento regular do chão. Deste, somente deste, podem os colonos tirar sustento e bens materiais. É nulo, ou quase nulo, o capital com que iniciam a vida. Entre eles não há representantes das grandes famílias do Reino, nem da burguesia dinheirosa.

Certo que alguns se aparentam com a pequena nobreza. Mas, se emigram para província tão áspera e distante, é exatamente porque a sorte lhes foi madrasta na terra natal. Outros, a imensa maioria, são homens do campo, mercadores de recursos limitados, artífices aventureiros de toda casta, seduzidos pelas promessas dos donatários ou pelas possibilidades com que lhes acena o continente novo."

Frutos da Família Miscigenada

Tibiriçá casou-se com Potira (1475~1559), e teve oito filhos:

Bartira M’Bicy (1491~1559);
Maria da Grã Terebê (1501~1581);
Pirijá Tibiriçá (1504~x);
Aratá Tibiriçá (1504~x);
Ítalo Tibiriçá (1508~x);
Ará Tibiriçá’ (1510~1555);
Toruí Tibiriçá (1514~x);
Beatriz Dias (1525~1569);

João Ramalho casou-se com Bartira M’Bicy e teve 14 filhos, talvez por isso hoje tenham tantos descendentes da família original de Piratininga espalhados por todo o Brasil:

Catarina Ramalho (1505~1584);
Antonia Quaresma Ramalho (1510~1613);
João Ramalho Jr (1513~x);
Joana Ramalho (1520~x);
Margarida Ramalho (1522~1574);
Antonio de Ramalho (1523~x);
Marcos Ramalho (1527~x); 
André Fernandes Ramalho (1528~1588); 
Victorino Ramalho (1530~1588); 
Jordão Ramalho (1531~x); 
Francisca Ramalho (1532~1602); 
Beatriz Ramalho (1538~x); 
João Batista Ramalho da Silva;

Minha avó de 15a geração é Dona Antonia Quaresma Ramalho, filha legitima de João Ramalho e Bartira M’Bicy que casou-se com Balthazar Dias Nunes Camacho, procedente de Viana do Castelo a 1490, tieram varias filhas, entre elas, Paula Camacho (chamda de 'A Mameluca'), minha avó de 14a geração é Paula Camacho, nascida a 1545 em São Vicente, casada com João Tourinho Maciel nascido a 1540 em Viana do Castelo, Portugal, pais de Ana Maciel.

Logo após a primeira geração de filhos e parentes de João Ramalho e Bartira, havia uma clara divisão social entre os portugueses, os povos indígenas e os mamelucos (descendentes de europeus e indígenas). Essa divisão era uma característica da sociedade colonial brasileira e de outras partes da América Latina durante o período colonial.

Os mamelucos eram fruto das primeiras misturas entre os colonizadores portugueses e os povos indígenas nativos. Essas misturas étnicas e culturais eram o resultado do encontro entre esses grupos distintos, levando a uma complexa interação social e cultural ao longo do tempo. Essa mistura é conhecida como "mestiçagem" ou "miscigenação" e é uma parte importante da história do Brasil.

Exemplos dessas ricas miscigenações que eventualmente levaram à formação de uma população diversa e culturalmente rica no Brasil e em outras partes da América Latina moldou profundamente a sociedade e a identidade dessas regiões.

MACIEIS E CAMACHOS

Em texto da Revista do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, 1º de novembro de 1894, VOLUME XXXV, As histórias das famílias 'Macieis' e 'Camachos' são importantes para a Vila de São Paulo de Piratininga:

"...A tradição em que se estribou Pedro Taques naturalmente não se cingia a considerar adventicia na terra a primeira geração dos Maciéis, que demonstrei ter aqui nascido. Reinóis tainbem eram, segundo a mesma tradiçã9, a mulher de João Maciel, PAULA CAMACHO, e um irmão desth, Gonça!o Caniacho, que casou com filha ou neta de João Ramalho, originancio um ramo de mamalucos da familia. E a este ramo estaria filiada, como sobrinha em 1.O ou 2." grau de Paula, Ana Caniacho, 2 mulher de Domingos Luiz, o Carvoeiro.

Tambem essas afirmações se desfazem à luz dos documentos ainda existentes, que apresentarei em ordem cronológica".

Na revista é mencionado ainda que as famílias Camacho e Maciel foram uma das primeiras a povoar a vila de São Paulo e que gerou figuras notáveis como Estevão Ribeiro Baião Parente e João Arnaro Maciel Parente. Os autores também destacam também a relevância da linha feminina da família e sugere que os filhos do genealogista têm origens nessa linhagem.

Considerando os antepassados de 13a geração, Ana Maciel e Jorge de Barros Fajardo, enquanto se fala sobre Fernão Dias Leme, paulista de importancia na história de São Paulo:

Ana Maciel, que compartilho como antepassada, se uniu em matrimônio com Jorge de Barros Fajardo (S. Leme, vol. 8, p. 151). Jorge de Barros, um respeitável cidadão de S. Paulo, também figura entre meus ancestrais. Curiosamente, ele não recebeu o tratamento de "dom" como registrado pelo linhagista e por Silva Leme. De acordo com seus registros, em 1601, ele relatou estar casado por apenas sete ou oito anos (Zd., vol. I, p. 108). Isso ocorreu aproximadamente vinte e três ou vinte e quatro anos após a chegada de João Maciel de Portugal.

Além disso, Catarina Camacho, cujo casamento com Fernão Dias Leme é registrado (S. Leme, vol. 5, p. 230), também é uma figura de interesse. Pedro Taques, no título dos Lemes, deixa em aberto o local de nascimento de Catarina e a data de seu casamento. Importante ressaltar que Fernão Dias Leme, figura notável entre os paulistas, tinha menos de 30 anos em 1605 (Inv., vol. I, p. 401). Mesmo em 1663, Catarina estava viva (Doc. Int., vol. XLIV, p. 369). Evidentemente, o casamento de Catarina ocorreu após as uniões de suas irmãs mais velhas, refletindo uma cronologia distinta.

É verdade que a história está repleta de figuras complexas e muitas vezes controversas. Fernão Dias Leme é uma personalidade histórica significativa entre os paulistas, contribuindo para a formação da sociedade na época. Reconhecer essas figuras é essencial para entender a origem e o desenvolvimento de uma sociedade. Ao explorar e contar a história completa, incluindo os aspectos menos atraentes, podemos ganhar uma compreensão mais completa e honesta do passado. Isso nos ajuda a refletir sobre o presente e moldar um futuro mais inclusivo e igualitário.

Se você nasceu no Centro-Sul do Brasil, é bem possível que seja descendente dos primeiros colonizadores de São Paulo: os bandeirantes e também os tropeiros que se espalharam e povoaram vários estados no passado em seus assentamentos, sejam eles controversos ou não. Explorando essas linhas genealógicas podemos traçar as raízes dos primeiros portugueses e espanhóis que se estabeleceram em São Vicente e São Paulo. Estudar seu sobrenome pode aumentar sua conexão com a rica história do Brasil, ainda mais do que você imagina.

A respeito da nobreza da linhagem dos Maciéis, ele expressou repetidamente, possivelmente em aditamentos posteriores à sua última viagem a Lisboa:

"A passagem e a nobre qualidade de João Maciel de Vinana para o Brasil constam no cartório das justificações da corte de Lisboa, nos autos de nobilitate firobanda de Domingos Antunes Maciel, processados no ano de 1756 no juízo da Índia e Mina" (Rev. Tr. vol. XXXIII. 11, p. 138).

"A transmigração de João Maciel e a qualidade de sua nobreza constam por documentos e certidões genealógicas, em uns autos de justificação de Domingos Antunes Maciel, processados no ano de 1755, no cartório de habilitações do reino" (Id., vol. XXXV, 11, p. 236).

No entanto, de maneira alguma aproveitou essa fonte, não chegou a redigir o título que os Maciéis mereciam, e distribuiu em diferentes títulos todos os membros dessa família que abordou.

Originário de Viana do Minho, de uma família cujo tronco provavelmente é o mesmo do qual mais tarde se originou o ilustre capitão Bento Maciel Parente, que foi governador do Maranhão, JOÃO MACIEL já estava em S. Paulo em 1570, de acordo com informações de Pedro Taques, corroboradas por Silva Leme.

Como ja havia dito, minha avó de 13a geração foi Ana Maciel, casada com Jorge de Barros Fajardo, nascido a 1555 em Pontevedra, Galiza, Espanha pais de pais de Catarina.

Portugueses e Espanhois

Nos relatos da história colonial do Brasil, a presença portuguesa muitas vezes assume o papel de destaque. No entanto, para compreender plenamente a riqueza e complexidade da formação do povo brasileiro, é fundamental reconhecer que a miscigenação com povos indígenas não se limitou apenas aos colonizadores portugueses. Os espanhóis, com sua própria e notável relevância histórica, desempenharam um papel significativo nesse processo multifacetado.

O livro de Alfredo Ellis Júnior (Os primeiro trancos paulistas e o Cruamento Euro-Americano, 1936) lança luz sobre essa narrativa muitas vezes negligenciada, revelando a influência e o impacto dos espanhóis na interação com as populações indígenas do Brasil. Neste capítulo, exploraremos como a presença espanhola se entrelaçou com a cultura e a história do Brasil, contribuindo para a diversidade e a complexidade do mosaico étnico que define nossa nação.

Mas, em Portugal, o maior contingente eugênico foi indubitavelmente do sul. Em relação à Espanha, a desproporção em desfavor das regiões do norte foi ainda mais acentuada, tanto no número de imigrantes quanto no valor de cada um, representado pelas virtudes inerentes a eles, bem como pelos feitos no sertanismo. Dos povoadores oriundos do norte português, conhecemos os seguintes:

"Da Galícia: Jorge de Barros Fajardo (do qual sou descendente), Gaspar Gonçalves de Araújo e Dom Francisco de Lemos, este último de Orense. (Pedro Taques considera os originários da Galícia como portugueses); 

Do Douro: Salvador Pires, Garcia Rodrigues e sua esposa Isabel Velho, Manuel Ferraz de Araújo, Braz Cubas, Gonçalo Nunes Cubas, Antonio Cubas, Catharina Cubas, os quatro irmãos Gayas, Magdalena Feijó de Madureira (esposa de Estevam Ribeirão Bayão) e Sebastião Gil, quase todos do Porto;

Do Minho: João Maciel, Simão Jorge, Gonçalo Camacho, Pero Collaço, Estevam da Costa, Martim da Costa (estes três últimos foram companheiros de Martim Afonso)...."

Minha Avó de 12a geração é Catarina De Barros Fajardo, que faleceu em 8 de setembro de 1667, e foi casada com Sebastião Coelho Barradas, português nascido a 1590, pais de Maria Carneiro. 

Minha avó de 11a geração é Maria Carneiro, nascida a 1615 em São Paulo, casada com Manoel Álvares de Souza, nasceu a 1600 em São Miguel, na Ilha dos Açores, pais de Izabel.

Minha avó de 10a geração é Isabel Manoel Álvares de Souza, nascida a 16 de junho de 1641 aqui em São Paulo, casada com Francisco Vieira Antunes de Ventosa, Braga, Portugal, nascido a 1618, pais de Águeda.

Nesta foto fictícia, em que a imaginação ganha vida por IA, Luiz Pagano viaja no tempo e visitita o Pátio do Colégio no ano de 1562, para levar CAUIM TIAKAU e brindar ao lado de Tibiriçá, Pe. José de Anchieta e João Ramalho (ou seria Manoel da Nóbrega 🤔, à frente do Pátio do Clegio, na aldeia do Inhapuambuçu.

Minha avó de 9a geração é Agueda Vieria Antunes, de 1682, casada com Luís Gonçalves “Palmela”, nascido lá em 1658, pais de Francisco.

Como podemos perceber, até esta geração, todos os antecessores são mulheres, porém, a partir dessa geração, o responsável pela minha linhagem passa a ser o Sr. Francisco Vieira Antunes, vindo de Ventosa, natural de Braga em Portugal.

Muitas vezes chegavam aqui em busca de melhores possibilidades, casavam-se com mamelucas e depois partiam para os sertões em busca de riquezas e expansão territorial, como descreve Nilva Mello, "...a família Maciel, como muitas outras na vila de Piratininga, teve sua história triste que mostrou também o papel vital que desempenhava as mulheres na vida doméstica,  mesmo quando casando muito cedo, como era costume da época e que atingia o acme quando o marido se ausentava, nas corridas pelo sertão, deixava no comando dos filhos, da casa, e do sítio".

Meu avô de 8a geração é Francisco Xavier Gonçalves, nascido a 1699 e falecido a 2 de março de 1778, casado com Josefa Oliveira Guedes de 1710, pais de Anna Vieira.

Minha avó de 7a geração é Anna Vieira Oliveira, de 1736, casada com Ignacio Diniz Caldeira, nascido a 13 de novembro de 1704 em Angra do Heroísmo, Açores, pais de Rosa.

Minha avó de 6a geração é Rosa Maria da Assunção Caldeira, Casada com Raimundo José Branco Ribeiro, pais de Escholastica;

Início do fim da escravização e dos maus-tratos aos povos indígenas

Até agora só vimos grandes adversidades e injustiças enfrentadas pelos indígenas e mamelucos em São Paulo, mas as perspectivas começam a melhorar moralmente com uma consciência crescente, marcando o início de uma mudança significativa na abordagem dos direitos e da justiça para os índios. Continuando com a análise dessa importante trajetória histórica, exploraremos a seguir a forma de indivíduos, como José Arouche de Toledo Rendon, nascido em São Paulo em 14 de março de 1756, filho do mestre-de-campo Agostinho Delgado Arouche e D. Maria Thereza, que desempenharam papéis cruciais neste movimento transformador.

2ª Fase - Arouche e o início da Tradição Indigenista em São Paulo 

A escravidão, a violência arbitrária e a exclusão social foram características marcantes da experiência dos índios em São Paulo. Em contraposição, muitas vozes ao longo dos últimos 450 anos se levantaram face a tantas injustiças e em defesa dos direitos históricos dos índios, a começar pelos jesuítas.


Coube, no entanto, a José Arouche de Toledo Rendon (1756-1834) a distinção de pioneiro, entre os paulistanos, de uma longa tradição humanitária e filantrópica que marcou a constituição do indigenismo no país. Descendente direto de apresadores de índios, Arouche aproveitou a sua formação em Coimbra para desenvolver um outro olhar sobre o passado e o futuro dos índigenas de São Paulo.

Além de seu envolvimento em atividades econômicas (introduziu o plantio do chá em São Paulo), administrativas e militares (reprimiu a Bernarda*), destacou-se na política indigenista a partir de agosto de 1798, quando foi nomeado Diretor Geral das Aldeias da Capitania. Tarefa nada fácil, foi encarregado de substituir as diretrizes do Diretório das Índios, artefato da política pombalina que foi extinto naquele mesmo ano.

Após inspecionar as comunidades indígenas, Arouche redigiu a primeira versão de sua Memória sobre as aldeias de índios, cujo original se conserva hoje no Arquivo Histórico Ultramarino, em Lisboa. Abismado com o estado de miséria e abandono no qual viviam os aldeados, Arouche buscou na história da colonização as raízes do problema. Os índios, avaliou, "têm os sentimentos abatidos não por natureza, mas pela malícia dos outros homens".

Acreditando na perfectibilidade humana e em princípios universalistas referentes à liberdade e aos direitos, concluiu que o atraso e a inferioridade dos índios eram consequências das ações humanas de maus governantes, administradores e religiosos. Esta postura, na contramão tanto de poderosos interesses políticos e fundiários quanto de correntes científicas que prognosticavam a inevitável extinção dos índios, foi adotada depois por outros, com destaque para José Joaquim Machado de Oliveira, Joaquim Antônio Pinto Jr. e, no início da República, pelos membros da efêmera Sociedade de Etnografia e Civilização dos Índios.

Os termos e as perspectivas mudaram, mas a tradição persiste hoje na Cidade de São Paulo na atuação de ONGs, tais como a Comissão Pró-Índio (fundada em 1979) e o Instituto Socioambiental (sucessor do CEDI, fundado em 1974), entre várias outras entidades paulistanas, que se destacam nos cenários nacional e internacional.

* A "Bernarda" foi uma revolta popular ocorrida em 1831 no Rio de Janeiro, tinha esse nome derivado de sua possível idealizadora, e lider, Maria Bernarda Bento, motivada pelo descontentamento com o governo central. 

Manuel Luís Osório, futuro Duque de Caxias, liderou a repressão à revolta em nome de Francisco de Lima e Silva, o Marquês de Barbacena, que era o líder militar da região na época. As forças lideradas por Osório conseguiram sufocar a revolta, resultando em prisões e punições para os envolvidos.

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Minha avó de 5a geração é Escholastica Jacinta Branco, nascida a 28 de setembro de 1786, casada com Daniel Antonio da Silva Correa de Moraes, pais do Capitão Antonio.

Saiba mais sobre a familia Corrêa de Morais aqui

Meu avô de 4a geração é o ‘Capitão’ Antonio Correa de Moraes, um dos primeiros comerciantes de Café de São Paulo. Foi ele quem adquiriu o túmulo no cemitério da Consolação, casado com Francisca Babara da Silva, que depois do casamento mudou o nome para Francisca Correa de Moraes nascida a 11 de Agosto de 1818.

Raphaela Gimenez de Moraes dec. 1920 - bisavó

Meus bisavós (3a geração) são Manoel Correa de Morais e Rapahela Gimenez Correia de Morais (1881~1951) pais da Dona Zuzu.

Emilia Francisca Correa de Morais (Zuzu), Nascida à 16 de outubro de 1901 na rua  da Gloria, dentro do triangulo histórico do Inhapuambuçu e Jose Francisco Pagano Brundo, meus avós, pais de Antonio Carlos Pagano Brundo (TAO) que se casou com minha mãe Lydia Siqueira Pagano Brundo.

TAO e Lydia

Sei que além dos Correa de Morais existem milhares de outros sobrenomes herdeiros do trono de Inhapuambuçu, mas fica aqui minha enorme gratidão e devoção à cultura ancestral Tupi, desde antes da chegada dos colonizadores portugueses ao Brasil, bem como meu convite para que um dia possamos brindar a nossa brasilidade tomando cauim Tiakau, Cauim do Inhapuambuçu (bebida a base de mandioca que venho desenvolvendo em homenagem aos nossos antepassados).

3ª Fase - Orgulho de ser paulista e de ter sangue de Tibiriçá

Na primeira fase, testemunhamos a chegada dos portugueses e o impacto da aculturação resultante da catequese, que infelizmente levou à miscigenação e à sobreposição da cultura portuguesa, silenciando as tradições indígenas que tanto marcaram a região. Na segunda fase, destacaram-se as iniciativas de líderes como Rendon, que buscaram reparar as injustiças do passado e promover o respeito aos povos indígenas.

Celebrações indígenas no Hotel Toriba (que em Tupi antigo significa 'felicidade') em 2019, mais de 400 anos depois da última realizada no Brasil por João Ramalho e Tibiriça. Da esquerda para a direita, Hildo Sena, criador do enzimático do Cauim Tiakau, a chef indígena Kalimarakaya da etnia Terena e Luiz Pagano, criador do método japonês de produção de Cauim Tiakau e criador do filme Tupi Pop.

Agora, no terceiro movimento, é o momento de honrar e celebrar o orgulho de ser paulista e de trazer consigo o sangue de Tibiriçá. Luiz Pagano emerge como uma figura inspiradora que dá continuidade a essa jornada. Sua visão audaciosa e inovadora resgata não apenas as memórias dos antigos indígenas, mas também as tradições que há muito foram esquecidas.

Luiz Pagano é um elo vivo com as raízes indígenas de São Paulo. Através de seu trabalho na criação do Cauim tiakau (cauim comercial 100% de mandioca), ele não apenas homenageia seus antepassados, mas também reconstrói as pontes entre o passado e o presente. Seu compromisso com processos de produção descritos em Tupi antigo é um testemunho do respeito e da dedicação à preservação das tradições.

Com essa iniciativa, Luiz Pagano não está apenas promovendo uma bebida ancestral; ele está liderando um movimento que busca reconectar as pessoas com suas raízes indígenas, criar um espaço para apreciar e respeitar as culturas ancestrais e reafirmar o orgulho de ser paulista, carregando consigo o legado de Tibiriçá.

Este terceiro movimento é um chamado para todos aqueles que valorizam a diversidade cultural e reconhecem a importância de celebrar as origens. É um convite para se juntar a Luiz Pagano em sua missão de construir um futuro onde a herança indígena seja honrada e onde o orgulho de ter sangue de Tibiriçá seja compartilhado por todos.

Que possamos um dia erguer nossas taças e cuias e em uma unica voz gritar:

T'ereîkokatu _ Cheers em Tupi antigo.

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