sábado, 19 de março de 2011
José Francisco Pagano Brundo - Tropeiro
No final do século XVIII, aventureiros exploram a região onde se localiza o Registro e o Porto do Cunha. Muitos caminhos dessa região eram freqüentados por viajantes vindos das Minas Gerais em busca de um caminho mais curto rumo ao Rio de Janeiro. Os tropeiros logo perceberam a vantagem de percorrerem estas paragens, crescendo, assim, o movimento das tropas. Logo, artesãos, seleiros, traçadores, ferreiros e ferradores passaram a trabalhar para os tropeiros e viajantes vindos das regiões do Rio Pomba, do Rio Doce, das cabeceiras do Rio Angu, e do Muriaé. Mas, eles provinham, principalmente, das terras onde o Padre Manoel de Jesus Maria havia fundado aldeamentos, povoações, freguesias e paróquias, e das terras onde Guido Tomaz Marlière, francês de nascimento, a serviço da Coroa portuguesa, iniciara uma obra de desbravamento e conquista.
Casa da Família Pagano em Leopoldina MG
Foi na virada de 1899 para 1900 que Jose Francisco Pagano Brundo trabalhou como tropeiro por estas bandas. Seu pai e irmãos ainda moravam em Leopoldina – MG enquanto ele se aventurava pelos caminhos das tropas.
Pode-se até imaginar o dia em que José Francisco foi até a Paróquia da Nossa senhora do Rozario no final da rua, a apenas algumas casas de distância para pedir a bênção do padre para sua nova empreitada, partindo logo em seguida, rumo a sua aventura em busca de riqueza e aventuras.
O nome “tropeiro” surge com os condutores de tropas, assim designadas as comitivas de muares, e cavalos entre as regiões de produção e os centros consumidores, a partir do século XVII no Brasil pelos Bandeirantes. Mais ao sul do Brasil, também são conhecidos como carreteiros, pelas carretas com as quais trabalhavam.
Paroquia da Catedral de Leopoldina
Os tropeiros vendiam utensílios, alimentos, produtos de luxo, vestimentas e também suas mulas e bois. Os mineiros compravam as mulas para carregar o ouro e as pedras preciosas até os centros comerciais perto do litoral. Os bois serviam para a alimentação dos mineiros.
Além de seu importante papel na economia, o tropeiro teve importância cultural relevante como veiculador de idéias e notícias entre as aldeias e comunidades distantes entre sí, numa época em que não existiam estradas no Brasil.
Pousos eram os locais onde os tropeiros descansavam. Normalmente eram casa de pau-a-pique, construções simples com telhado de palha, sustentado por pedaços de madeira enterrados no chão, normalmente com um pasto para as mulas, no entanto eles dormiam a maior parte do tempo ao ar livre. Conta meu avô que era uma troça do tropeiro quando eles dormiam no tempo, passar bosta fresca de cavalo no bigode de quem cochilava, quando este acordava, passava o dia reclamando do cheiro e não saabia de onde vinha, sendo motivo de rizo para a tropa.
A referencia mais antiga sobre o inicio da profissão do tropeiro vem de Santa Catarina, dia 26 de abril é o Dia do Tropeiro no Estado de Santa Catarina. Foi a data da morte, em 1733, do padre Cristóbal de Mendonza e Orelhana, primeiro tropeiro brasileiro vindo do pampa argentino, em 1732, com destino no Rio Grande do Sul, chegando em Santa Catarina no ano seguinte.
Durante 250 anos os tropeiros foram responsáveis por toda a comercialização e transportes de produtos e informações no Brasil.
Assim como toda profissão tem a sua principal feira de negócios, com as tropas não era diferente. Sorocaba foi durante muito tempo a Meca dos Tropeiros, a vila de Nossa Senhora da Ponte de Sorocaba teve seu crescimento atrelado ao tropeirismo. As feiras anuais, entre os meses de janeiro e maio, atraíam muitos tropeiros do sul do Brasil, que vendiam suas tropas de bestas a paulistas, mineiros, cariocas e baianos.
Tropa de Mulas
Jogos com apostas, cavalhadas, espetáculos eqüestres, exibição de panoramas e cosmoramas estavam entre os tipos de lazer que mais chamavam a atenção do público. A cidade transformava-se no período das feiras, com os espetáculos públicos e um ativo comércio realizado nas ruas por mercadores ambulantes. Estes concorriam com os donos de estabelecimentos fixos.
Já mais velho, José Francisco Pagano Brundo deixou a sela e os caminhos para trabalhar em algo mais burocrático, aqui vemos uma reunião da firma num bar do centro de São Paulo. Na época um dos gestores de venda das maquinas registradoras National Super.
A seguir, conheça algumas terminologias da montagem de arte do tropeirismo no Brasil
Glossário do Tropeiro
Abas f. pl. Capilhas de couro dos dois lados do selim.
Acaneia f. Cavalgadura bem proporcionada, mansa e de passo curto.
Acêvar m. Ant. Suco amargo de aloés, que serve para curar as feridas dos cavalos e a quebradura das pernas das aves.
Acurvilhar v. Acurvar a cavalgadura; ou ajoelhar.¦Dobrar o cavalo com frequência e em excesso os curvilhões.
Adraguncho m. Ant. Glândula engorgitada no peito e pernas dos cavalos.
Aguadeiras f. pl. Cangalhas para carregar cântaros com água.
Ajustura f. Pequena cavidade numa ferradura, para que esta se adapte facilmente ao pé.
Alamia f. Ant. Franja para cavalo.
Alares m. pl. Laços feitos de sedas de cavalo, para apanhar perdizes.
Aneia f. Égua.
Aragano adj. Diz-se do cavalo assustadiço, fugão ou difícil de ser domado.
Arcada de trás: a parte detrás do arreio (levantada).
Bacheiro m. Forro de lã posto sobre o suadouro e por baixo da carona da sela.
Badano m. Cavalo velho e magro.
Barbada f. O beiço do cavalo, onde aperta a barbela.
Barbata f. Assento do freio, na parte da boca do cavalo em que não tem dentes.
Barbela f. Corrente de metal que se prende unindo as duas cambas do freio por trás do queixo do cavalo e que fazem o efeito de alavanca pretendido neste tipo de embocadura.
Bocal m. Peça do freio do cavalo que entra na boca.
Broma f. Parte da ferradura de besta em que assenta a parede circular.
Cabeçada f. Parte dos arreios que cingem a cabeça e o focinho das cavalgaduras.
Cabeçada sem embocadura: qualquer uma da variedade de cabeçadas sem embocadura, com a qual o controlo é conseguido através de pressão sobre o changro e o queixo do cavalo e não dentro da boca.
Cabeção m. Espécie de cabresto que aperta no focinho.
Cabeção de passar à guia: semelhante a uma cabeçada de manjedoura mas com três argolas na focinheira, que permitem colocar a guia em três posições diferentes.
Cabeçote m. Parte dianteira superior da sela.
Cabeio m. Movimento violento da cauda do cavalo.
Cabrestilho m. Pequeno cabresto.
Cabresto m. Corda ou correia com que se prende a cavalgadura na estrebaria ou com que se governa a que não leva freio ou cabeçada.
Cachaceira f. Correia que faz parte da cabeçada.
Cama f. Pode ser feita de palha, aparas, papel cortado, e servem para recobrir o chão do local onde o cavalo dorme, para proteger quando se deita e para manter aquecido.
Canas f. pl. Tiras de couro cru das rédeas.
Canelo m. Parte de ferradura da besta.
Canesson m. Tipo de focinheira mais simples de todas.
Cangalhas f. pl. Armação de madeira ou ferro, em que se sustenta e equilibra a carga das bestas, metade de um lado, metade do outro delas.
Cavalariça f. Casa térrea, estrebaria, estábulo onde se recolhem e alimentam cavalos, muares e burros.
Cavalgada f. Troço de cavalaria, que vai correr ou chocar com o inimigo.¦2. Acompanhamento, pompa de cavaleiros; rancho de pessoas a cavalo.
Correão m. Correia larga e grossa que serve para alçar ou levantar a caixa do coche e sustentá-la.
Correeiro m. Aquele que faz ou vende correias ou outras obras de couro, como arreios, malas, etc.
Curtume Ato de curtir couro
Cutelaria
Desselar v. Tirar a sela a cavalgaduras.
Dessocado adj. Bras. Diz-see do cavalo que sofreu a operação de sessocar.
Em barda loc. adv. Armadura que cobria o cavalo.
Embocadura f. A parte do freio que entra na boca da besta.
Embocadura: Normalmente de metal ou de borracha, coloca-se na boca do cavalo (sobre a língua) para regular a posição da sua cabeça e para ajudar a controlar o andamento e a direcção. A embocadura é manipulada através das rédeas.
Embornal m. Saco em que se dá a ração às bestas e se lhes prende ao pescoço; cevadeira.
Engarela f. Provinc. Utensílios, de ferro ou de madeira, que se colocam em cima de albardas para neles se meterem vasilhas.
Estribo m. Peça em que o cavaleiro mete o pé quando cavalga.
Feijão Tropeiro Um prato típico da comida mineira.
Flame m. Espécie de lanceta para sangrar cavalos.
Flete m. Bras. do S. Cavalo bom e de boa estampa, e com luxo.
Freio m. Conjunto das peças de ferro e correias que servem para bridar um cavalo e, particularmente, peça que se coloca na boca da cavalgadura, para a dirigir.
Garupeira f. Tiras fixadas ao traseiro da sela para amarrar objectos.
Habena f. Poét. Rédea de cavalo; açoute; chicote.
Jaez m. Aparelho, adorno de cavalgaduras.
Jape m. Gír. bras. Cavalo. Também se diz jupe.
Lã pelo especo e macio de certos animais.
Lã de trapo Tecido macio separado da lã com acido clorídrico
Ladriço m. Corda que prende ao travão o pé do cavalo.
Ligal m. Bras. Couro cru de boi com que se cobre a carga das bestas, a fim de a proteger contra a chuva; também se diz ligá.
Loro m. A correia dupla que sustenta o estribo e que está afivelada ao selim.
Mandrilho m. Membro genital do cavalo.
Mercancia. Mercadoria, ato de mercanciar.
Mercar. Comprar para vender.
Manta f. Pano de lã que se põe debaixo do selim das cavalgaduras.
Miquete m. Burro selvagem de Angola.
Paniça adj. Diz-se da ferradura muito larga.
Parede de casco: Parte do casco que é visível quando o cavalo o tem assente no chão. Está dividido em pinça (à frente), quartos (dos lados) e talão (atrás).
Peitoral m. Correia que cinge o peito do cavalo.¦2. Região ímpar do tronco dos solípedes que tem por base a parte anterior do esterno e é constituída pelos músculos que dele se dirigem para a espádua e úmero.
Pelage ou pelagem f. A cor do pêlo dos cavalos.
Pinote m. Salto que a cavalgadura dá, escoiceando.
Rabicheira f. Parte dos arreios dos muares que passa por baixo da cauda e se prende à parte dos arreios que cinge o ventre, para impedir que a sela escorregue para a frente.
Rédeas f. Correia de couro que, ligada ao freio da cavalgadura, serve para guiar esta.
Seima f. Vet. Fenda ou greta que se produz na parede dos cascos, de cima para baixo.
Sela f. Gênero de assento que se coloca no dorso do cavalo, para maior comodidade de quem monta.
Sela à portuguesa: A atual sela à portuguesa evoluiu a partir da sela francesa do século XVIII. Em relação a esta última, simplificou-se e ganhou sobriedade.
Tara f. Defeito ou vício das cavalgaduras.
Tarim m. Ant. Espécie de freio para cavalgaduras.
Topete m. Parte anterior da crina do cavalo que cai entre as orelhas.
Topinho adj. Diz-se da cavalgadura que tem os talões e quartos muito altos.
Tropeirada Grande numero de treopeiros.
Vergal m. Correia que prende ao carro as cavalgaduras.
Zornão adj. Prov. Diz-se do burro que zurra muito, sobretudo quando avista fêmea.